Quando a arte resolve falar da arte, é necessário parar para ouvir. Quando anunciado pela primeira vez, ficou claro que Pentiment, desenvolvido pela Obsisian Entertainment (Xbox Game Studios), seria um jogo metalinguístico utilizando a arte para falar da arte.

Ao adentrar ainda mais nesse mundo, fica claro que a metalinguagem faz jus ao seu significado. Indo na onda de jogos que seguem o propósito de reviver momentos da História se utilizando de outras mídias e tentando focar na acessibilidade disso via cultura pop parece uma premissa bem interessante a ser seguida.

No entanto, fazer um jogo focado somente no contexto histórico e desconsiderar a premissa básica de um jogo, que é a diversão, pode descaracterizar uma premissa da outra. Será que Pentiment cai nesse quesito, ou consegue trazer mais uma forma de falar da História de uma maneira acessível e divertida?

Veja nossa análise de Pentiment e se o game vale a pena
Veja nossa análise de Pentiment e se o game vale a pena - Imagem: Obsidian

Será que a Obsidian, estúdio mestre em fazer jogos enormes e densos de RPG, conseguiria apostar em um jogo completamente diferente das suas propostas tradicionais?

É com essa premissa que seguiremos nossa análise de Pentiment; confira mais detalhes abaixo!

A história de Pentiment

Em Pentiment, você controlará Andreas Maler, um artista alemão que está trabalhando em um Scriptorum (uma espécie de antecessor do Gamão), em uma cidade da Bavária no Século XVI.

Como forma de sobrevivência, o artista transcreve livros para a Igreja local. No entanto, diferentemente do mundo medieval visto de forma romântica, a vida de Andreas é completamente pacata e tranquila.

Assuma o controle de Andreas Maler, um artista que vive na Bavária do sec XVI
Assuma o controle de Andreas Maler, um artista que vive na Bavária do sec XVI - Imagem: Obsidian

Até que um dia, com a visita de um nobre, o mundo dele vira de cabeça para baixo. Pouco tempo depois espalha-se a notícia de que este nobre havia sido morto e, infelizmente, por coincidência ou não, seu amigo e companheiro é falsamente acusado.

Dito e feito: a partir de agora, você deverá seguir as pistas para provar a inocência do seu amigo e evitar que ele seja morto por esse crime que ele não cometeu.

Detetive como você nunca viu

Para aqueles que jogaram o famoso jogo de tabuleiro Detetive, ou Clue, em seu nome original, as coisas vão passar a ficar bem familiares a partir de agora. Ao coletar pistas e informações, você poderá acusar qualquer pessoa disponível.

Só que, caso você erre, o jogo não vai confirmar ou negar a sua acusação, e o vilarejo seguirá sua vida normalmente. Mas, não se esqueça de que suas ações possuem consequências.

Diferentemente de alguns jogos que seguem essa premissa de investigação, que possuem tempo ilimitado para procurar pistas, Pentiment vai na contramão disso, tonando um de seus pontos mais fortes.

Utilize uma vasta mecânica de exploração para desvendar 25 anos de mistérios
Utilize uma vasta mecânica de exploração para desvendar 25 anos de mistérios - Imagem: Obsidian

Já que é a vida do seu amigo que está em jogo, você tem até o dia da execução dele para procurar por todas as pistas possíveis para fazer o melhor julgamento. E, como era de se esperar, assim como na vida real, você não conseguirá coletar todas as evidências em tempo hábil.

Isso significa que, ao final do prazo, você poderá ter informações suficientes para inocentá-lo, ou não. Algo que torna as coisas bem mais interessantes, e aumenta muito o fator de rejogabilidade.

Investigação lenta e demorada

Embora o game possua grandes traçso fortes no aspecto investigação, ele acaba pecando pelo excesso. Na vida real, investigar coisas se torna algo maçante. No jogo, como as possibilidades são vastas, essa investigação também se torna algo que passa dos limites em certos pontos.

Saindo do vasto mundo do RPG

Quem vê esse jogo mal imagina que, por trás dele, está a Obsidian Entertainment, que foi responsável por nada mais, nada menos, do que diversos projetos enormes como Star Wars: Knights of the Old Republic II: The Sith Lords e Fallout: New Vegas.

Olhando assim, parece muito ousado sair de projetos enormes e complexos, para perseguir a ideia de um jogo bidimensional, mas não que não deixa pra trás metade da complexidade com que o estúdio está habituado a trabalhar.

Mas é exatamente isso que a empresa quer: ao tomar a decisão de agrupar equipes menores e poder experimentar coisas novas, é algo que está faltando e muito na indústria nos tempos de hoje em dia.

Pentiment explora a arte de forma quase não vista anteriormente
Pentiment explora a arte de forma quase não vista anteriormente- Imagem: Obsidian

É assim que games indies nascem, é assim que novas tendências nascem. Ao ver que a Obsidian tem tido a liberdade e a ousadia de poder apostar em projetos menores, diferentes do que estão habituados, é a demonstração clara de que o estúdio não está parado nem seguindo suas fórmulas.

Isso nos dá a indicação de que ele está seguindo novos rumos e, melhor ainda, que esses rumos podem trazer coisas tão legais quanto suas criações anteriores.

Uma forma diferente de viver novas culturas

Pentiment cobre certa de 25 anos do vilarejo da Bavária, o que dá muito pano para a manga de cobertura histórica. Ou seja, é bem legal poder ver diversos pontos históricos da Europa central serem abordados, como o excesso da taxação de camponeses e até mesmo as ideias de Martinho Lutero tomando forma.

Ou seja, embora seja extremamente lento e com um pacing difícil de acompanhar, especialmente pelo tamanho e da velocidade dos textos que são exibidos na tela, Pentiment se esforça bastante na sua acurácia histórica.

Pentiment é a chance de explorar novas culturas de maneiras diferentes
Pentiment é a chance de explorar novas culturas de maneiras diferentes - Imagem: Obsidian

No game, além dos fatores de gameplay que tornam a história envolvente de ser perseguida, ainda há a ambientação histórica, que está diretamente alinhada e condizente com o que o título se propõe.

Pentiment vale a pena?

Para aqueles que não são muito fãs de jogos de exploração Pentiment pode ser um jogo extremamente maçante e sem propósito. Mas, para aqueles que curtem muita exploração, diálogos e investigação, o jogo pode sim, ser um bom atrativo.

Pentiment é um jogo do qual você não espera muito, mas que te entrega tudo!

O ponto de estar disponível no catálogo do Xbox Game Pass também dá um sabor interessante ao game, que acaba trazendo mais visibilidade para ele.

Justamente por isso, é que Pentiment salta aos olhos; seja por usar os pontos históricos como pano de fundo e por trazer uma boa aura de investigação, mesmo que ela seja maçante e muito mais densa do que precisava.

Pentiment é um jogo que vale a pena - Imagem: Obsidian

O foco em desenvolver um projeto menor, com poucas pessoas, permitiu à Obsidian atingir a excelência de projeto e entregar algo conciso, feito com pouco pessoal.

Foram 10 pessoas nesse projeto completo e completamente plausível e sem demandas absurdas da indústria, mas que traz Pentiment, um game que vale a pena ser experimentado.

Ao fazer isso, a Obsidian demonstra claramente que vamos ver mais títulos de pegadas experimentais chegando aos serviços de assinatura e que eles podem ter espaço e lugar tanto quanto obras mirabolantes de mais de cinco anos de desenvolvimento.

Pentiment está disponível para PC (Windows) Xbox One e Xbox Series X/S (disponível também na assinatura do Xbox Game Pass). Esta análise foi feita com uma cópia gentilmente cedida pela Microsoft.